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sexta-feira, julho 01, 2016

Cartografia Sonora

Conheço esse disco e essa música desde que eu tinha 8 anos.
https://www.youtube.com/watch?v=jwbTVw2m2Jo


De lá para cá...

Saí do Crato para Maceió,
O amigo que me gravou uma fita cassete com esse disco faleceu 3 anos depois,
Repeti a oitava série, o primeiro ano, perdi o segundo ano e parei de frequentar a escola,
Comecei a fazer teatro,
Ganhei meus sobrinhos (os filhos que - ainda - não tenho),
Cheguei aos 20,
Entrei na UFAL,
Conheci a Paraíba no FENETEG e meus tantos amigos queridos de lá,
Apaixonei-me pelo carnaval Recife-Olinda, aonde conheci meu primeiro namorado,
Tive uma lua-de-mel em Caruarú, certa vez,
Perdi tios queridos,
Conheci o amor da minha vida,
Mudei-me para São Paulo,
Em meio a uma das maiores dores que já senti na vida, ganhei um grande companheiro,
Assinei minha carteira de trabalho,
Cheguei aos 30,
Aprendi a me virar sozinho,
Adotei uma bichana (que benção!),
Fui um dos primeiros 200 da SP Escola de Teatro,
Fui até a República Checa, com escala na Alemanha,
Tirei drt de cenógrafo e figurinista,
Morei um ano e meio com um amigo de quem não me esqueço um dia sequer,
Passei por uma separação,
Perdi minha filha de quatro patas,
Mudei-me para o Rio,

Cá estou...

O Rio tem sido um misto de novidades e reencontros: com quem eu sou, com o mar, com pessoas queridas, com situações mal-resolvidas afim de passá-las a limpo, com a solidão, com amores, traumas, cheiros, liberdade, meu corpo e sons. Muitos sons. Dentre eles essa música, que ainda fala taaaaaaaaaanto sobre quem eu sou, quem eu me tornei e quem eu nunca deixei de ser.


domingo, junho 19, 2016

Sobre a festa (da) Laura.

Os perpassamentos acontecem independentemente da nossa percepção dos mesmos. As coisas acontecem o tempo inteiro. Acontecem, aconteceram, acontecerão. Não há tempo e na verdade ainda há muito tempo. Quantos tempos cabem num mesmo tempo? Evitar de desperdiçar tempo, de não estar à toa. Mas o que é estar à toa? Ficar numa boa? E por que não ficar numa boa, admirando o tempo das coisas? Fazendo festa, percebi que parece que não estou fazendo coisa séria. Parece festa, até... mas na verdade as coisas estão acontecendo. Pessoas estão se conhecendo, corpos estão dançando, eu estou em movimento. Movimento. Movendo e mentalizando.
É um delírio, um êxtase, um transe, muitas transas. Por falar em transa, o tempo vai passando a potência dos meus movimentos vão aparecendo. Eu assisto, me emociono e me envolvo... Não sei não me envolver. E assim nascerá Laura. Uma criança que eu adoraria que nascesse geminiana, mas o importante mesmo é que nasça saudável, linda, guerreira, cabeça erguida, dançante, alegre, feliz. Os pais de Laura se conheceram numa noite tão complexa quanto divertida. Providencial, prefiro pensar. Foi na Sodomistikka Open Bar.

Você veja: com meus amigos, vizinhos, parceiros, amados, loucos, providenciamos um encontro lindo que plantou, um ano depois, a Laura na barriga da Thainá. De nós, hoje, só posso dizer que brota vida. Diariamente. De todos nós.

Um acontecimento tem muitos tempos, de fato, e sob muitos afetos. Hoje eu percebi que aquela edição da festa que faço com os meninos ainda acontece, lindamente numa barriga grande de uma mulher preta forte, resistente. Axé.
Eu desejo do fundo do meu coração que o Marley mais acerte do que erre para que Laura tenha um herói. Não um herói como as personagens de super-herói, mas que tenha orgulho de ser filha do pai que tem. Assim como desejo que as pessoas se amem mais, se respeitem mais, se permitam mais. Boa hora para mamãe e bebê, bons tempos para todos. E ainda sobre os encontros, amigos, festa, Sodomistikka... Evoé!
https://www.youtube.com/watch?v=6eNCW1Uv2H4

sábado, janeiro 16, 2016

Entre_tempos.

É lindo o que Marilia diz antes de começar a interpretar Drumond.
É tão profundo quanto inexplicável se ver lacrimejando quando da identificação com um texto escrito em outra época, em outro contexto por outro corpo...
Esses dias eu estava lendo um texto sobre o Jerzy Grotowski e no segundo parágrafo eu já não controlava as lágrimas que caíam, caíam caíam morro abaixo.
Não era tristeza. Era emoção.
Havia um diálogo naquele momento como poucas vezes tive o prazer de experienciar com os outros, lado a lado.
Essa semana senti/vivi isso de novo, mas com um texto do Arnaldo Antunes, datado de 28 de abril de 1985 (nessa época eu ainda estava aprendendo a andar, falar e não comia sozinho, imagino) e só agora eu entendi um pouco melhor o que ele quer dizer com "nem tudo que se tem se usa"*.
Eu já conhecia essa frase há mais de dez anos pela música Nem Tudo e, como tudo o  que conheço dele, eu adoro cantarolar.
Você veja: as coisas realmente têm o seu tempo. E o tempo é individual. Há o inevitável tempo, o do relógio, do calendário, o dos álbuns de fotografia. Mas há o tempo de apuração e maturação. Dos corpos, de uma idéia, de conceitos, de transformação dos muitos pensaventos em pensamentos.
Com vinte e poucos eu queria voar. Com 30 eu ando aprendendo a andar. E isso vem se (an)dando ao passo que tenho (re)aprendido a me amar, a amar o outro, os outros e às palavras.


*(Ed. ILUMINURAS, p.17 . 2014)


https://youtu.be/I9KTm3vMKa8